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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Domínio


Domínio

                Acordo e ligo MINHA televisão, assisto MEUS canais e saio da MINHA casa. Vou até MEU trabalho e depois sempre que posso encontro MEUS amigos para papear, divagar e outras coisas sobre MINHAS coisas e as coisas DELES. Reparo que por um instante, está tudo basicamente apossado e a caixa alta nesse “textículo” se faz ainda que necessária na demandas e ofertas da pós-modernidade: tudo e nada são meus, são nossos e são seus.  Amém né?      

                No que titulam de pré-história, do desenvolvimento científico do homem, a intenção do domínio pelo menos relatado pelos arquivos era fundamentada nas ações dos homens – primitivos em sua raiz. Homens que dominavam outros homens e legitimavam a posse de seu domínio a fim de acumular aquela posse e ditar as leis daquele momento. Séculos depois, a coisa parece se exatamente confirmada em moldes mais mirabolantes e até místicos. O tempo vai passar e o ocidente vai ser dominado pela filosofia, que vai ficar dominada pela heresia romana, que vai ser dominada pela barbárie germânica e que vai abarcar os sonhos da média idade dos confins do medievo. Os homens incansáveis no seu triz vão dominar e invocar o dogma feito um ritual tribal pra efetuar e equacionar seus domínios, onde até o sagrado e o intocável se torna um domínio. Recorto meus impulsos de pseudo-domínio da História e atento para um momento que vai rasgar todas as outras formas de dominação e propriedade e vai se arrastar feito uma dor crônica, só que medicada com muito analgésico, pela atemporalidade. A formação daquela classe burguesa e da dinâmica do capitalismo vai ser duradoura e eficaz quando se tratar de dominar, eficaz no sentido de que o tempo para esse sistema é muito que relativo, eles dominam e nós também. Essa questão é uma coisa muito antiga e até fito de sobrevivência principalmente na raça humana. É preciso conquistar, dominar, separar e amedrontar e assegurar os dominados. Vão além dos bancos de dados teóricos, políticos, práticos e psicológicos: no autodomínio de si mesmos iremos invadir territórios, separar os poderes, explorar e garantir posses, remediar através de muito cinismo e violência e criar um protocolo pra proceder todo esse jogo de ex-equilíbrio. Os resultados disso acho que boa parte das pessoas sabem: uns desconsideram e outros consideram suficientemente pra executar esse roteiro fielmente.

                Mas o que quero alertar é que parei pra pensar nisso, numa contemporânea esfera das coisas de que como essa sensação de dominar e ser dominado parece uma coisa enraizada no nosso cérebro e que como isso é inútil e doloroso pra nossas vidas. Não é um panfleto anarquista, por mais belo que seja ainda humildemente vejo sua impraticabilidade por culpa desse domínio metafísico inato nos seres humanos, é mais uma reflexão de como nós estamos reféns de uma consciência que automaticamente nos liberta e oprime, de que rastros do ultra-passado estão ainda neo-conservados. Nós temos uma ânsia e ganância por querer as coisas seja conhecimento ou material, passamos mais da metade da vida querendo dominar algo ou alguém, querendo ter posse e separando as coisas e cinicamente somos dominados por outros seres que já estão dominados em sua forma total. Os Estados são uma dominação, o próprio espaço sideral é um domínio e uma posse e olhem bem, nem um petulante ser humano conseguiu sequer descobrir o que é este espaço. Deus virou um domínio pra legitimar a moral e a ordem, médicos e psicanalistas te dominam dizendo que tomar, as empresas nos dominam determinando estatísticas de como agir e nos comportar, determinando e estipulando sinais totais de controle dos quais nossos anseios por domínio nos afastam dessa percepção, escolas e universidades dominando seus alunos conforme suas metodologias, nossos pais nos dominam dizendo o que fazer e o que vencer numa vida que é somente pra ser vivida. E aqueles que pensam abstrair todas essas expressivas mazelas da vida estão agindo conforme a dança da dominação crônica, por si só expressam uma saída alternativa daquilo que se utilizam para agirem como funcionários da verdade querendo dominar aqueles que não falam sua verdade. O homem moderno é intencionado a viver civilizadamente e socialmente conforme regras inseridas por uma anterior dominação e ainda assim dentro dele, por mais humano que seja ele quer dominar algo alheio e ter posse daquilo como uma estatueta interior ou exterior. Domínio, posse e controle são as raízes imperfeitas dos seres humanos.                              

                A dor maior desse fragmento é perceber e fazer parte dessa dinâmica, vendo que minhas armas para combater isso se esvaziam no caos da multidão multilateral, na rotina, no relógio e na folha de ponto que vai calhar o contracheque. Creio que o maior investimento daquele capital, foi dominar não os povos, a autenticidade, a cultura e a tecnologia. Foi dominar de modo imperial a ignorância alheia, a ignorância que alimenta e universaliza essa espécie sádica e segura de dominação. Eu tava parado no ponto de ônibus quando passa um carro com uma mera canção do funk carioca que repetia deliberadamente o seguinte refrão: “TÁ DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO”

Jonathan Luiz