Domínio
Acordo
e ligo MINHA televisão, assisto MEUS canais e saio da MINHA casa. Vou até MEU
trabalho e depois sempre que posso encontro MEUS amigos para papear, divagar e
outras coisas sobre MINHAS coisas e as coisas DELES. Reparo que por um
instante, está tudo basicamente apossado e a caixa alta nesse “textículo” se
faz ainda que necessária na demandas e ofertas da pós-modernidade: tudo e nada
são meus, são nossos e são seus. Amém né?
No
que titulam de pré-história, do desenvolvimento científico do homem, a intenção
do domínio pelo menos relatado pelos arquivos era fundamentada nas ações dos
homens – primitivos em sua raiz. Homens que dominavam outros homens e
legitimavam a posse de seu domínio a fim de acumular aquela posse e ditar as
leis daquele momento. Séculos depois, a coisa parece se exatamente confirmada
em moldes mais mirabolantes e até místicos. O tempo vai passar e o ocidente vai
ser dominado pela filosofia, que vai ficar dominada pela heresia romana, que
vai ser dominada pela barbárie germânica e que vai abarcar os sonhos da média
idade dos confins do medievo. Os homens incansáveis no seu triz vão dominar e
invocar o dogma feito um ritual tribal pra efetuar e equacionar seus domínios,
onde até o sagrado e o intocável se torna um domínio. Recorto meus impulsos de
pseudo-domínio da História e atento para um momento que vai rasgar todas as
outras formas de dominação e propriedade e vai se arrastar feito uma dor
crônica, só que medicada com muito analgésico, pela atemporalidade. A formação
daquela classe burguesa e da dinâmica do capitalismo vai ser duradoura e eficaz
quando se tratar de dominar, eficaz no sentido de que o tempo para esse sistema
é muito que relativo, eles dominam e nós também. Essa questão é uma coisa muito
antiga e até fito de sobrevivência principalmente na raça humana. É preciso
conquistar, dominar, separar e amedrontar e assegurar os dominados. Vão além
dos bancos de dados teóricos, políticos, práticos e psicológicos: no autodomínio
de si mesmos iremos invadir territórios, separar os poderes, explorar e
garantir posses, remediar através de muito cinismo e violência e criar um
protocolo pra proceder todo esse jogo de ex-equilíbrio. Os resultados disso
acho que boa parte das pessoas sabem: uns desconsideram e outros consideram
suficientemente pra executar esse roteiro fielmente.
Mas
o que quero alertar é que parei pra pensar nisso, numa contemporânea esfera das
coisas de que como essa sensação de dominar e ser dominado parece uma coisa
enraizada no nosso cérebro e que como isso é inútil e doloroso pra nossas
vidas. Não é um panfleto anarquista, por mais belo que seja ainda humildemente
vejo sua impraticabilidade por culpa desse domínio metafísico inato nos seres
humanos, é mais uma reflexão de como nós estamos reféns de uma consciência que
automaticamente nos liberta e oprime, de que rastros do ultra-passado estão
ainda neo-conservados. Nós temos uma ânsia e ganância por querer as coisas seja
conhecimento ou material, passamos mais da metade da vida querendo dominar algo
ou alguém, querendo ter posse e separando as coisas e cinicamente somos dominados
por outros seres que já estão dominados em sua forma total. Os Estados são uma
dominação, o próprio espaço sideral é um domínio e uma posse e olhem bem, nem
um petulante ser humano conseguiu sequer descobrir o que é este espaço. Deus virou
um domínio pra legitimar a moral e a ordem, médicos e psicanalistas te dominam
dizendo que tomar, as empresas nos dominam determinando estatísticas de como
agir e nos comportar, determinando e estipulando sinais totais de controle dos
quais nossos anseios por domínio nos afastam dessa percepção, escolas e
universidades dominando seus alunos conforme suas metodologias, nossos pais nos
dominam dizendo o que fazer e o que vencer numa vida que é somente pra ser
vivida. E aqueles que pensam abstrair todas essas expressivas mazelas da vida
estão agindo conforme a dança da dominação crônica, por si só expressam uma
saída alternativa daquilo que se utilizam para agirem como funcionários da
verdade querendo dominar aqueles que não falam sua verdade. O homem moderno é intencionado
a viver civilizadamente e socialmente conforme regras inseridas por uma
anterior dominação e ainda assim dentro dele, por mais humano que seja ele quer
dominar algo alheio e ter posse daquilo como uma estatueta interior ou exterior.
Domínio, posse e controle são as raízes imperfeitas dos seres humanos.
A
dor maior desse fragmento é perceber e fazer parte dessa dinâmica, vendo que minhas
armas para combater isso se esvaziam no caos da multidão multilateral, na
rotina, no relógio e na folha de ponto que vai calhar o contracheque. Creio que
o maior investimento daquele capital, foi dominar não os povos, a autenticidade,
a cultura e a tecnologia. Foi dominar de modo imperial a ignorância alheia, a
ignorância que alimenta e universaliza essa espécie sádica e segura de
dominação. Eu tava parado no ponto de ônibus quando passa um carro com uma mera
canção do funk carioca que repetia deliberadamente o seguinte refrão: “TÁ
DOMINADO, TÁ TUDO DOMINADO”
Jonathan Luiz